Alípio Jorge. O almirante explica tecnicamente a sinalização náutica da costa do Brasil através do Amapá. |
Em
meio a um cenário de incertezas na economia global, o Brasil e o Amapá
discutem estratégias para atender regras de competitividade do mercado. E
neste sentido foi identificado um gargalo para o setor de transporte
marítimo: a Barra Norte do Rio Amazonas, que impede a passagem dos
navios gigantes que já atuam no setor. Trata-se de uma barreira natural
que outrora era vencida com tranquilidade pelos navios padrão “Panamax”.
Então as atenções se voltam para a Marinha do Brasil, apontada como
única e mais real possibilidade de realizar um estudo náutico que aponte
alternativas. Isso foi feito nos anos 1950, sob encomenda e patrocínio
de um visionário chamado Augusto Antunes, fundador da Icomi S.A. Se
depender do Almirante Alípio Jorge, novo comandante do 4º Distrito
Naval, tem chances de acontecer de novo.
Cleber Barbosa
Para o Diário do Amapá
Diário
do Amapá – O senhor esteve recentemente em Macapá para a substituição
do comandante da Capitania dos Portos, uma rotina a bem da verdade, mas
que sempre sugere uma reflexão a respeito do papel da Marinha do Brasil
aqui na região. O que dizer a esse respeito Almirante?
Alípio Jorge –
É um prazer e uma honra muito grande estar de volta ao estado do Amapá,
visitando Macapá e Santana dessa vez, como poder estar junto das
pessoas falando a respeito das atividades da Marinha na região e dos
nossos planos para o ano de 2016, que iniciou com a vinda de um navio
que está realizando uma comissão de patrulha naval, prestigiando o
estado e também viemos verificar as necessidades do Amapá e dos diversos
setores, outras agências e órgãos da segurança pública, para que
possamos trabalhar em conjunto esse ano, somando esforços para atender a
população. A população ribeirinha e a população do estado como um todo.
Diário
– A gente sabe que a Marinha trabalha no binômio da segurança da
navegação e também a questão operacional, com o patrulhamento da Costa
brasileira. Essa primeira missão é que consiste o papel da Capitania dos
Portos?
Alípio –
Exatamente. Nós temos duas tarefas distintas, que a Capitania também
apoia. Uma é a inspeção naval, o trinômio que a autoridade marítima tem
competência e responsabilidade, que é a questão da segurança da
navegação, a salvaguarda da vida humana no mar e prevenção da poluição
hídrica. Então a Capitania trabalha principalmente voltada para esses
três pontos. Tanto na verificação da habilitação das pessoas que
conduzem as embarcações, quanto da verificação do estado das próprias
embarcações, se estão atendendo os requisitos de segurança necessários e
aqueles previstos em lei.
Diário
– Recentemente soube-se de um estudo do Comando da Marinha no sentido
de dividir a Esquadra, hoje sediada no Rio de Janeiro, onde ficam
portanto os principais equipamentos de defesa naval do Brasil. A quantas
anda esse projeto Almirante? Seria na região Norte ou Nordeste essa
unidade?
Alípio –
Isso na verdade é um item que está na Estratégia Nacional de Defesa. A
Marinha, quando for possível, deverá ter duas esquadras, não significa
que ela vai dividir a esquadra que tem hoje. Esse é o plano para longo
prazo, não estamos com nenhuma atividade maior, direta, voltada para
dividir a esquadra que está no Rio de Janeiro. O que nós estamos fazendo
é incrementando a manutenção, o treinamento das nossas tripulações dos
navios que estão no Rio de Janeiro. Nós não estamos fazendo a aquisição
de novas embarcações, nada voltado para uma segunda esquadra no norte do
país. No momento os nossos recursos orçamentários não permitem isso e
não tenho noção de planos de curto ou médio prazos com relação a fazer
efetivamente essa implantação.
Diário
– Então não existem motivos de preocupações a mais com relação à faixa
de mar territorial do Brasil ao norte, onde há relatos de biopirataria?
Qual a diretriz da Marinha em relação à Amazônia?
Alípio –
O senhor no primeiro momento perguntou sobre a Esquadra, e o que o
senhor está falando nesse momento não é tanto uma atribuição da
Esquadra. Isso é uma atribuição também dos Distritos Navais. Nós fazemos
a proteção e a defesa nacional, tarefas voltadas à proteção e à defesa
nacional. O 4º Distrito Naval tem sob sua subordinação 12 navios. O 9º
Distrito Naval, voltado para a Amazônia Ocidental possui 9 navios,
navios-hospitais, navios-patrulha. Em Manaus nós temos navios
hidrográficos, para levantamento e sinalização náutica e navios de
patrulha também. Então nós já estamos buscando realizar todas as
atividades voltadas à patrulha e a defesa nacional. Estamos sempre
buscando fazer isso, com os recursos orçamentários disponíveis.
Diário
– Não dá para deixar de provoca-lo, no bom sentido, a respeito de um
assunto bem atual que tem a ver com o desenvolvimento do estado do
Amapá. Trata-se da limitação imposta pelo Cabo Norte do Rio Amazonas à
navegação dos novos navios cargueiros, muito maiores que aqueles que
historicamente atuavam no mercado. A gente tem notícia de que a Marinha
do Brasil em parceria com a mineradora Icomi, nos anos de 1950, realizou
um completo estudo de levantamento náutico que resultou em cartas
náuticas que mudaram o eixo da navegação de cargas. Isso poderia ser
reeditado hoje de modo a atender às novas demandas que já impõem no
setor?
Alípio –
É, o nosso antigo Serviço de Sinalização Náutica do Norte, sediado em
Belém, teve toda a sua infraestrutura, toda a sua capacitação
incrementada e melhorada muito. Hoje, o nosso centro, fora o localizado
no Rio de Janeiro, é o único com capacidade de fazer os levantamentos
hidrográficos e produzir as cartas de navegação, assim como produzir
correções às cartas de navegação. Então conseguimos já esse ano, na
verdade no final do ano passado e início deste ano, resultados
satisfatórios nesse sentido e estamos conversando como autoridades do
estado, com a Companhia Docas [de Santana], com empresários, com a
praticagem, enfim, sobre os interesses a respeito do levantamento tanto
na barra Sul quanto na Barra Norte, de forma a poder apoiar com o nosso
Centro de Levantamento e Sinalização Náutica da Amazônia Oriental, o
CLSAOR, nesse trabalho a ser feito e colocar a nossa capacidade também a
essa disposição, de forma a realizar com os recursos orçamentários todo
um plano que já existe nesses levantamentos e até, se for necessário,
com recursos do estado e da iniciativa privada com um acordo de
cooperação, outros levantamentos que sejam do interesse da região e
principalmente do estado do Amapá.
Diário – A gente agradece por sua atenção Almirante e até a próxima oportunidade.
Alípio –
Eu que agradeço. E se Deus quiser, é nossa intenção, estarmos sempre
aqui presentes acompanhando pelo capitão dos portos as atividades
realizadas e sempre que possível com nossa presença física, visitando as
autoridades, os setores, a comunidade marítima, a população ribeirinha e
conversando com todos.
Perfil
Entrevistado.
O vice-almirante Alípio Jorge Rodrigues da Silva é natural do estado do
Rio de Janeiro. Foi declarado guarda-marinha em 13 de dezembro de 1980.
Entre seus principais cargos ou Comissões, estão ter servido no
Navio-Escola “Custódio de Mello”; na Fragata “União”; no Navio de
Desembarque-Doca “Ceará”; foi o Imediato da Estação Rádio da Marinha em
Brasília; Comandante do Navio-Patrulha Fluvial “Raposo Tavares”; do
Navio-Escola “Brasil”; do Centro de Adestramento Almirante Marques de
Leão; Chefe do Estado-Maior da Esquadra; Coordenador da Manutenção de
Meios da Diretoria-Geral do Material da Marinha; e Diretor de
Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha. Antes de assumir o
4º Distrito Naval, em Belém, era Diretor de Sistemas de Armas da
Marinha, em Brasília (DF).
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